"Era aqui que o amor, tornando-se prudente, perdia toda a pureza e espontaneidade originais, afastando-se aceleradamente da matriz: no jogo, na estratégia, no cálculo.
Decepção: o amor inspira-nos manifestações viscerais e genuínas, cabalmente apoiadas na razão, mas tinham que ser coadas, retocadas, refreadas, se queríamos preservar o outro e a ligação. Onde estava então, o coração? Cedendo à razão, devagarinho? ou já vendendo-se?
Foi o que mais me custou ao estrear-me na vida adulta, o que mais se opôs ao meu ideal amoroso, adolescente: saber que a espontaneidade pode prejudicar o amor e que as pessoas o sujam com objectivos. Parecia-me evidente: se o amor se corrompe nega-se a si próprio, passando de dádiva a estratégia de preservação ou a instrumento de cobrança ou desforra."
Rita Ferro, in " Não me contes o fim"
Há dias, muitos, em que me apetece arranjar umas boas cordas, amarrá-la e guardá-la durante uns bons tempos no sotão: a razão, claro.
2 comentários:
O bom que era termos uma semaninha por ano em que pudessemos tudo sem limites : )
era até vergar... óhóh rsrs
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